O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou, em sua segunda reunião de 2021, a taxa Selic de 2,0% para 2,75% ao ano. Foi a primeira alta desde o final de julho de 2015, quando a taxa passou de 13,75% para 14,25% ao ano.
A deterioração das expectativas da inflação, a depreciação do câmbio, a ausência de sinalização de um maior controle fiscal e as incertezas em relação ao cenário econômico são algumas das razões apontadas pelos analistas para justificar o início do processo de aperto monetário promovido pelo Banco Central.
Segundo a economista do Banco de Dados da Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC), Ieda Vasconcelos, as projeções de analistas de mercado indicam que a Selic poderá encerrar 2021 entre 4% e 5%. “É preciso considerar o impacto dessa alta na situação financeira das empresas e também das famílias, pois pode gerar aumento de inadimplência (famílias) e corte de investimentos (empresas)”, aponta.
Expectativas da inflação para 2021 estão se deteriorando
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou alta de 5,20% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro/2021 e ficou acima dos 4,56% registrados nos 12 meses anteriores.
Particularmente no segundo mês do ano, pressionada pela elevação do preço dos combustíveis, a inflação surpreendeu e o IPCA contabilizou alta de 0,86%, o que correspondeu a maior variação para um mês de fevereiro desde 2016. Em janeiro/2021 o indicador aumentou 0,25%. Houve também aumento nos alimentos e bebidas. Nos últimos 12 meses (mar/2020-fev/2021) esse grupo registrou elevação de 15%.
O centro da meta para a inflação em 2021 é 3,75%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Isso significa que, para cumprir a meta, o IPCA/IBGE deverá encerrar o ano entre 2,25% e 5,25%.
“É importante ressaltar que há 10 semanas consecutivas as expectativas da inflação brasileira para 2021 estão se deteriorando”, frisa a economista.
Segundo Vasconcelos, a Pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central, reflete esse avanço. O levantamento, realizado no início de janeiro, sinalizava que o IPCA/IBGE encerraria 2021 com alta de 3,34%. Mas, em todas as pesquisas posteriores, essa estimativa foi alterada para maior. A última divulgação (12/03/2021) projetou elevação de 4,60%, o que demonstra forte deterioração das projeções. Caso esse resultado seja confirmado será a maior inflação do País desde 2016, quando o referido indicador de preços registrou alta de 6,29%.
Além disso, apesar de alguns números indicarem que a economia brasileira registrou melhor desempenho do que era aguardado no primeiro mês do ano, Vasconcelos ressalta que é preciso considerar que o incremento de atividades não ocorreu de forma generalizada.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo Banco Central, apresentou incremento de 1,04% em janeiro/2021, número superior ao que era aguardado pelo mercado (alta de 0,5%). Mas, considerando o resultado acumulado nos últimos 12 meses encerrados em janeiro/2021, o IBC-Br apresentou queda de 4,04%. Na comparação com o primeiro mês do ano anterior, o indicador de atividade econômica também recuou: -0,46%.
Na avaliação da economista, apesar das estimativas que a inflação medida pelo IPCA/IBGE ficará próxima ao teto da meta, ainda não se observa contaminação nas projeções para 2022. Outro fator que precisa ser acompanhado é como os aumentos da Selic, previstos para este ano, refletirão nas taxas de juros dos financiamentos imobiliários.
Fonte: CBIC
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