A indústria da construção vive um bom momento: o PIB setorial cresceu 2,1% no primeiro trimestre do ano, comparativamente ao último de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa 75% a mais do que o país cresceu no mesmo período, estimulando o crescimento da construção civil.
“Há um aumento generalizado de obras em todos os segmentos do setor: incorporação imobiliária, obras públicas, construção formal e de particulares — conhecidos no segmento como ‘formiguinhas’”, diz o presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), Dionyzio Klavdianos.
Ele aponta que o surto ocorrido durante a pandemia acabou surpreendendo e se manteve quando ela começou a arrefecer. Nos seis primeiros meses do ano, foram criados 178,6 mil empregos com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O número de trabalhadores no setor cresceu 7,86%.
E diante das expectativas de que a economia brasileira cresça mais do que 5% em 2021, a atividade projeta que possa crescer 4% neste ano, o que significaria o maior crescimento desde 2013. “Historicamente, se o PIB do país cresce, o da construção civil cresce mais”, afirma o presidente da comissão da CBIC.
O desempenho é impulsionado pelo incremento do financiamento imobiliário, taxas de juro em patamares reduzidos e melhora, ainda que tímida, da economia.
E, pela primeira vez desde fevereiro de 2020, o segmento de imóveis de médio e alto padrão voltam a registrar alta simultânea de lançamentos e de vendas em 12 meses, aponta a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Segundo o presidente da entidade, Luiz França, o ambiente de negócios propício tem favorecido o desenvolvimento do mercado imobiliário para públicos diversos, que veem grande atratividade para investimentos em imóveis em comparação com as aplicações financeiras tradicionais.
Cenário favorável contagia indústria de materiais
Este cenário favorável contagiou a indústria de materiais de construção, que projeta um crescimento de 8% nos negócios neste ano. “Muita gente está fazendo pequenas reformas em casa, para se adaptar ao novo cenário do trabalho e os juros baixos estão favorecendo investimentos no mercado imobiliário”, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Material de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro.
No acumulado dos 12 meses encerrados em junho, o faturamento setorial tem um crescimento de 16,6%, puxado, principalmente, por materiais de acabamento. Mas a entidade projeta taxas menores nos próximos meses, à medida que os meses de maior produção em 2020 entrarem na base de comparação.
Outro fator que favoreceu a indústria, segundo Luís Filipe Silva Fonseca, diretor executivo de negócios da Tigre, uma das maiores fabricantes de materiais plásticos para a construção civil, foi a mudança na forma com que as pessoas se relacionam com o imóvel em que moram. “A pandemia fez com que as pessoas ficassem mais em casa, aumentando a busca por imóveis que buscam melhor atender a necessidades como o home office”, cita.
Um dos termômetros do bom momento na construção é a venda de cimento. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), no primeiro semestre foram vendidas 31,5 milhões de toneladas, 15,8% a mais do que nos mesmos meses de 2020. A demanda foi impulsionada pela autoconstrução, reformas e continuidade de obras do setor imobiliário.
“Acreditamos que o setor deve continuar em um bom ritmo de crescimento. O aumento das vendas de imóveis residenciais em patamares surpreendentes sustenta o desempenho do setor de cimento, mas impõe cautela para o futuro. É fundamental a continuidade dos lançamentos imobiliários, a manutenção do ritmo das obras, aumento da massa salarial (emprego e renda) e da atividade econômica que manterão o fôlego do auto construtor e a confiança do empreendedor”, diz o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna.
Empresas estão reforçando investimentos para atender ao crescimento da demanda. É o caso da Tigre, de Joinville (SC), que está investindo R$ 250 milhões neste ano em tecnologia e ampliação da capacidade instalada. A maior parte dos recursos está sendo direcionada para as unidades brasileiras. Mas, mesmo com expectativa de crescimento do mercado interno, a estratégia de expansão internacional vai ser mantida. Em abril, a empresa adquiriu a americana Dura Plastic para reforçar sua presença na maior economia global.
A fabricação de tubos e acessórios de material plástico para construção, um dos segmentos em que a empresa catarinense atua, cresceu 23,1% nos 12 meses encerrados em junho, segundo o IBGE. E a expectativa é de que esse movimento continue, diz Fonseca. “As oportunidades são grandes no agronegócio, por causa das necessidades do ramo de irrigação, e na área de infraestrutura. O marco legal do saneamento vai causar uma disrupção nesse setor e favorecer a ampliação de investimentos.”
Construção preocupada com alta nos preços
Uma das preocupações da Abramat é com o aumento nos preços dos materiais de construção. Levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta para uma alta de 15,98% nos 12 meses concluídos em julho. “Estamos negociando, com o governo federal, a redução das alíquotas do Imposto de Importação (II)”, diz Navarro.
Para Klavdianos, da CBIC, o dilema pela qual passa a construção civil é o mesmo da economia como um todo. “O aumento exagerado da inflação, como acontece agora, notadamente no que tange aos insumos da construção, afeta os custos, o que pode inviabilizar os negócios do construtor ou elevá-los no preço do produto final.”
A entidade avalia que o crescimento da construção civil poderias ser maior, atingindo a marca dos 6%, caso não houvesse problemas de alta nos custos das matérias-primas.
Alternativas estão sendo encontradas para driblar essa alta nos custos e a demora da entrega de insumos no mercado brasileiro. Diante da alta na cotação do aço, a Cooperativa da Construção Civil do Estado de Santa Catarina (Coopercon-SC) importou 20 mil toneladas de aço da Turquia. A medida também beneficia empresas paranaenses. O primeiro carregamento chegou no início de julho ao porto de São Francisco do Sul (SC).
Mais carregamentos deverão ser realizados nos próximos meses. Mesmo com o dólar mais alto, os custos alfandegários e os impostos para importação, o preço final do aço ficou 20% mais barato do que o produto nacional.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), Rodrigo José Assis, um segundo navio deve chegar ao porto catarinense em setembro e uma terceira encomenda, com pedidos realizados até agosto e previsão de entrega em novembro, está sendo organizada.
“As empresas têm cronogramas de obras para executar e não podem ficar paradas. Se não estamos conseguindo comprar do mercado interno por estar muito caro ou por não ter previsão de entrega, então temos de trazer de fora”, diz o dirigente empresarial.
Fonte: Gazeta do Povo
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