Depois de quatro meses apontando estabilidade, o Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE (ICST) registrou em novembro uma queda de 1,5 ponto, para 95,7 pontos, afastando-se da região de neutralidade do índice (100 pontos). “Observávamos que neste segundo semestre a confiança vinha rateando, ora com resultado negativo na avaliação da situação, ora por conta das expectativas. Em novembro, a cautela cedeu ao pessimismo, e tanto a situação atual quanto as expectativas sofreram um revés”, resume Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE.
Castelo ressalta que a revisão para baixo do ICST não reflete a dinâmica da atividade em si, mas as condições para operá-la. O indicador que mede a avaliação recente da atividade, ilustra, se mantém acima dos 100 pontos há cinco meses. “Há entretanto, a percepção de um cenário mais difícil em função da falta de mão de obra qualificada – fator que desde o ano passado tem crescido em assinalações como limitativo para os negócios – e aumento de custo”, descreve. Em novembro, as menções à falta de mão de obra qualificada somaram 33%, nível não observado desde 2014. “Como tenho ilustrado, essa escassez é parte das dores do crescimento que o setor vem registrando”, diz.
Em novembro, queda se dá na avaliação da situação atual e também nas expectativas
diferença do índice, em pontos, em relação ao mês anterior – série dessazonalizada
Fonte: FGV IBRE.
Essa escassez tem se refletido fortemente nos custos. O Índice Nacional de Custos da Construção (INCC-M) do FGV IBRE aponta que no acumulado do ano até novembro o custo da mão de obra registra alta de 7,67%, folgadamente acima do IPCA. O aumento observado no grupo “materiais, equipamentos e serviços” nos últimos meses – mais intensamente em setembro e outubro – também colaboraram para uma inflação não trivial, de 4,53% no acumulado do ano. Em novembro, as principais altas observadas foram em condutores elétricos (2,09%) e vergalhões e arames de aço (1,12%).
Inflação da construção: acima do IPCA
IPCA 12 meses encerrados em outubro= 4,76% • INCC 12 meses encerrados em outubro= 5,72%
Fonte: FGV IBRE.
Apesar dessas dificuldades no horizonte, Castelo ressalta que o atual dinamismo sinaliza boas perspectivas para a atividade do setor em 2025. Na atividade imobiliária a economista diz que há possibilidade de desaceleração no segmento de média e alta renda. Isso se dá não apenas devido às altas nas taxas de financiamento como também pelas restrições na capacidade de expansão do funding, com a poupança registrando saldos negativos, ainda que este ano o financiamento com recursos do SBPE tenha mostrado forte desempenho.
Para os empreendimentos do Minha Casa Minha Vida – “para o qual o orçamento é o limite”, diz Castelo –, as perspectivas são positivas, com a sinalização do conselho gestor do FGTS de uma alta de 1,9% no orçamento para 2025. Outro elemento que joga a favor desse grupo são as novas medidas lançadas pelo governo para reduzir a concessão de crédito para a compra de imóveis usados, que também inclui os perfis do Minha Casa Minha Vida. Na faixa 3 do programa, reduziu-se o valor máximo do imóvel financiado, de R$ 350 mil para R$ 270 mil e ampliou-se o valor mínimo de entrada (50% no Sul e Sudeste e 30% nas demais regiões). Com isso, a contratação de financiamento nessa faixa caiu 85% em setembro e outubro.
Financiamento habitacional com recursos da poupança (SBPE) – unidades financiadas e valores contratados
(construção, aquisição, reforma e material para construção)
Fonte: Cbic, com dados de SBPE- Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e Banco Central.
No campo da infraestrutura, Castelo lembra que as perspectivas são positivas, citando projeções da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), de que este ano os investimentos no setor deverão crescer 15%, fechando em R$ 259 bilhões, sendo 25% provenientes de recursos públicos. A maior fatia vai para empreendimentos de energia elétrica (R$ 119,3 bilhões), mas é o segmento de transporte e logística que deverá registrar o maior crescimento em relação a 2023, com 52,17%, com R$ 63 bilhões. Em entrevista para o jornal Valor Econômico em setembro, Venilton Tadini, presidente da Abdib, sinalizou que os leilões de concessão e PPPs em infraestrutura previstos para ocorrer nos 30 meses a partir de setembro de 2024 deverão movimentar R$ 300 bilhões em obras, podendo criar um círculo virtuoso, ajudado ainda pelo aumento da diversificação de fontes de recursos para financiamento desses projetos.
Gastos público e privados em infraestrutura, em R$ bilhões (valores constantes de 2024)
Fonte: Abdib.
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Fonte: Conjuntura Econômica – Portal FGV Ibre
Leia mais
Vendas de imóveis novos registram crescimento de 23%, revela indicador ABRAINC-FIPE