Sinduscon faz balanço de 2023 e fala de perspectivas para 2024

O mesmo movimento da autoconstrução, pequenas obras e reformas, que surpreendeu positivamente a construção civil brasileira na pandemia, agora tem peso preponderante nos frustrantes 1,2% de crescimento estimado do setor em 2023. Lembrando que a expectativa no início de 2023 era fechar o ano com 2,4% de elevação. O PIB da construção civil que vinha em queda livre desde 2014, saltou, em 2021, de 2,09% negativos do ano anterior para 12,62% e, em 2022, cresceu outros 6,85%. O recuo nesse segmento (famílias) foi significativo a ponto de registrar 2,8% negativos.

O total, no entanto, foi compensado pelos investimentos das incorporadoras e construtoras – produção formal que responde pela maior parte do PIB da construção. As obras de infraestrutura foram as que apresentaram melhores resultados, 4,5%, seguida pelas empresas com 3,3%, edificações 3,0%, serviços especializados 2,5% e construção 1,2%.

Durante o balanço apresentado em coletiva à imprensa, no início de dezembro, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, considerou a queda deste ano como vigorosa, apontando como causa principal as taxas de juros restritivas, que afetaram a economia do país e os investimentos na construção. “Para 2024, esperamos diminuições dos juros básicos e das taxas do financiamento imobiliário, possibilitando aumento dos investimentos no setor da construção”, disse, projetando um crescimento de 2,9% em 2024.

“O PIB da construção, este ano, comparado ao da pré-pandemia está em um patamar muito superior, alcançando 14% de crescimento”, informou Ana Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Empregos na construção em alta

A melhoria nos negócios das empresas do setor se reflete no crescimento no número de empregos com carteira assinada. Entre janeiro e outubro de 2023, a alta foi de 6,8% em relação ao ano anterior. O saldo líquido, ou seja, contratações menos demissões na construção, representou 14% do saldo total nacional de empregos. Portanto, o mercado de trabalho se mostrou bastante aquecido.

O patamar foi puxado pelos números da cidade de São Paulo que, somados os segmentos de obras de edificações, infraestrutura e serviços, alcançou 8,6%, superando a média nacional. Esse aquecimento trouxe junto a falta de mão de obra qualificada, principalmente para a etapa de acabamentos.

Mercado imobiliário de 2023

Apesar das elevadas taxas de juros, o mercado imobiliário foi resiliente e já mostra melhora nas vendas no terceiro trimestre, refletindo o efeito positivo da retomada do programa Minha Casa Minha Vida. Porém, até setembro, os números dos lançamentos e das vendas do Brasil registram queda de 16% e 3%, respectivamente, em comparação com igual período do ano anterior.

Já o segmento imobiliário paulistano comemora alta de 11,5% nas vendas, mas com 4,1% menos lançamentos. O segmento econômico foi o que mais unidades lançou, com aumento de 6,6%, mas as vendas não foram tão bem, registrando 4,8%. As vendas de unidades dos demais segmentos, especialmente de médio e alto padrão, cresceram 18,1%, e os lançamentos caíram 12,1%.

Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, chamou a atenção para o ciclo imobiliário, que abrange o período entre os lançamentos e início das obras de, no mínimo, 14 meses. “O mercado paulistano está vendendo estoque e, somente agora, a partir de outubro, começou a repor lançamentos”.

Segundo Estefan, houve uma redução importante do estoque de imóveis para a alta renda na cidade. “Em muitos casos, essas unidades estão sendo vendidas a preços antigos. Uma ótima oportunidade para investir”, disse, acrescentando que a reativação dos lançamentos para esse segmento de alta renda depende da redução dos juros bancários.

Venda de materiais de construção em 2023

O baixo consumo das famílias que impactou negativamente o PIB da construção também se revela nas vendas de cimento no mercado interno: entre janeiro e outubro de 2023 a queda foi de 1,8%. Os números da indústria e do comércio de materiais de construção são igualmente negativos, sendo que a produção foi de – 2,5% e as vendas de – 3,0% até setembro passado.

Por outro lado, a média dos aumentos dos preços dos materiais e equipamentos foi menor do que a inflação. Depois de atingir o pico de elevação em meados de 2021, os preços passaram a desacelerar progressivamente. “Embora a cesta ainda guarde uma alta de 36% no acumulado entre janeiro de 2019 até agora, o que leva a concluir que construir ainda está mais caro do que no período pré-pandemia”, disse.

Perspectivas da construção para 2024

A perspectiva do setor é de evolução favorável dos segmentos setoriais, a começar pela mitigação do endividamento familiar pelo programa Desenrola, do Governo Federal. “O ciclo de queda dos juros deve continuar, segundo o próprio presidente do Banco Central, enquanto os negócios imobiliários estão novamente alavancados pelo Minha Casa Minha Vida”, indicou Castelo.

De acordo com Yorki Estefan, as novas condições do programa trouxeram grande incentivo às empresas que atuam nas faixas de 1 a 3. “Apesar de ter aumentado os limites da 2 e 3, muitas vezes o problema é a renda dos compradores. Essa é a única questão, pois os demais aspectos foram muito bem tratados pelo governo”, comentou. Aliado a isso, os preços dos materiais de construção estão mais estáveis, o que ajuda as empresas a investirem no Minha Casa Minha Vida.

No cenário para o próximo ano, Ana Castelo ressaltou a existência dos projetos de infraestrutura já contratados pelos programas oficiais e ainda outros que, em ano eleitoral, deverão ser iniciados pelas prefeituras. A incógnita continua sendo o panorama fiscal, incluindo o fim da desoneração da folha de pagamento que poderá acarretar acréscimo no preço das novas unidades.

Estefan destacou que os 250 mil novos postos de trabalho criados em 2023 permitiram o treinamento dessa mão de obra, com ganho de produtividade. “Vamos usufruir desses benefícios no próximo ano, quando não seremos tão pressionados pela questão, já que o número de lançamentos diminuiu”, disse, sublinhando que a melhoria da produtividade passa pela absorção de sistemas industrializados, pauta da agenda do setor.

“Esperamos para o ano que vem a redução da taxa de juros e, consequentemente, do financiamento imobiliário, fundamentais para possibilitar o aumento do ritmo de crescimento do setor”, comentou Estefan.

Fonte: Portal AECweb

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