Serviços especializados: os mais otimistas do setor da construção

Depois de recuar entre janeiro e abril deste ano, a confiança e as expectativas do setor da construção se recuperaram e apontam a um cenário mais otimista. Na Sondagem da Construção de julho, destaca-se o papel dos serviços especializados nesse panorama. Presente nas fases inicial e final das obras – no caso, na preparação de terreno e no acabamento – esse segmento tem contribuído para impulsionar a atividade e as expectativas entre as empresas do setor.

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de Construção do FGV IBRE, afirma que parte do otimismo do segmento de serviços de acabamento, que na Sondagem lidera em expectativas, ainda se deve ao ciclo de reformas observado desde 2020. “Já a preparação de terreno é um indicador antecedente do ciclo, que antecipa as obras, e nesse sentido é um sinal positivo para as demais atividades de construção”, diz. Outro elemento que reforça o dinamismo desse segmento no agregado é o de geração de emprego. “Se observarmos os dados do Caged, veremos que no primeiro semestre os serviços especializados geraram o mesmo número de postos que edificações, e mais do que o segmento de infraestrutura”, ressalta.

Expectativas: serviços lideram
Sondagem da Construção, julho de 2021, indicador padronizado


Fonte: FGV IBRE.

Emprego por carteira
saldo líquido por segmento,  % primeiro semestre de 2021


Fonte: Caged.

Ana conta que, em pouco mais de uma década, os serviços especializados registraram um salto de quase dez pontos percentuais em participação no valor adicionado da construção. Saíram de 19% em 2007 para 28% em 2019, conforme aponta a última edição da Pesquisa Anual da Construção (Paic), do IBGE. “Esse aumento reflete dois fatores: o forte encolhimento da infraestrutura no período – relacionado a fatores que vão do impacto da Operação Lava Jato à queda do investimento no setor – e de uma maior formalização e terceirização desses serviços”, diz. Ela lembra que boa parte das atividades do segmento é pulverizada e intensiva em mão de obra, e por muito tempo foi caracterizada por um alto nível de informalidade. “Como implicava um custo reduzido, as empresas acabavam tendo seu próprio contingente. Mas o boom da construção – com crescimento do crédito, com destaque para o Minha Casa Minha Vida, IPOs – acabou gerando como contrapartida uma exigência de maior formalização na atividade das construtoras, que por sua vez passaram a terceirizar mais serviços de outras empresas formalizadas”, descreve. 

A economista ressalta que o aumento da terceirização desses serviços é positiva, com as construtoras atuando mais como gestora do que executora de parte das atividades em uma obra. “Obras têm ciclos, e contar com empresas especializadas para realizar determinadas atividades, como terraplanagem, instalações elétrica e hidráulica, torna o processo muito mais eficiente”, diz. 

Mesmo tendo uma menor participação do custo de insumos no valor desses serviços – já que a mão de obra é o principal elemento na maioria das atividades – Ana ressalta que a pressão inflacionária é um item de preocupação generalizada no setor. “Não tenho, por exemplo, como contratar um serviço de pintura sem comprar tinta”, exemplifica. Ela recorda que a alta de preços de materiais tem sido apontada pelas empresas da construção como limitador para a melhoria de seus negócios, e que atingiu um percentual recorde de citações nas Sondagens de julho e junho. “Essa alta gera desarranjos organizacionais, pois afeta orçamentos e cria insegurança na hora de formar preços”, diz. A despeito desse problema, entretanto, Ana diz que o setor está otimista. “A Sondagem sugere claramente a percepção dos empresários de que haverá o repasse desse aumento de custos e a demanda o absorverá”, conclui. No agregado do setor, a estimativa do Boletim Macro do IBRE é de que a construção cresça 4% em 2021. 

Custo dos materiais sobre o valor das obras ou serviços
2019, em %


Fonte: Paic.


Fonte: Conjuntura Econômica

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