Diante dos resultados da indústria da construção em 2021 e 2022, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) projeta para 2023 uma alta de 2,5% do PIB no nível de atividade do setor. A informação foi divulgada em 15/12, durante o último Quintas da CBIC do ano, comandado pelo presidente da entidade, José Carlos Martins. A live reuniu especialistas do setor para um balanço das ações da construção civil em 2022 e as perspectivas para 2023.
Apesar do nível de atividade do setor estar quase 20% abaixo do seu pico de operação, observado no primeiro trimestre de 2014, a construção civil vai fechar o biênio com um crescimento de quase 18% do seu PIB, incremento que não era visto desde 2013, e mais de meio milhão de trabalhadores com carteira assinada. Já a economia nacional, neste mesmo período, cresce 8%.
“Em dois anos o setor está com um crescimento 10% superior à economia nacional, resultado do ciclo de negócios iniciados em julho de 2020, quando as famílias ficaram em casa, em função da pandemia, e ressignificaram o valor da casa própria”, destacou a economista da entidade, Ieda Vasconcelos. Segundo a economista, diante do cenário atual, a projeção é de que a atividade da construção registre pelo terceiro ano consecutivo crescimento superior ao da economia nacional, com a geração de mais de 80 mil novas vagas com carteira assinada.
Na área de infraestrutura, apesar dos entes subnacionais – estados e municípios – terem frentes suficientes para desenvolver um programa mais robusto de obras públicas, todos os contratos do segmento foram prejudicados no país em razão do desequilíbrio econômico-financeiro gerado pelo descolamento entre os valores dos contratos e a evolução dos preços dos custos de materiais e equipamentos. “O processo para efetivar o reequilíbrio econômico-financeiro é lento e traz não só insegurança para as empresas, mas real prejuízo financeiro, econômico e no ritmo das obras”, salientou o vice-presidente da Comissão de Infraestrutura (Coinfra) da CBIC, Carlos Eduardo Lima Jorge.
De julho de 2020 a novembro de 2022, o aumento do custo da construção foi de quase 33%, diante de uma inflação oficial do país de 20%. A alta no custo com material, neste período, foi de cerca de 53%.
No segmento de obras industriais e corporativas, a expectativa é fechar o ano com uma receita de cerca de R$ 95 bilhões em obras executadas. “É um número razoavelmente expressivo, mas o setor ainda não atingiu o nível de atividade de 2012 e 2013. Ou seja, temos muito espaço para o crescimento em termos de emprego”, destacou o presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) da CBIC, Ilso José de Oliveira, ressaltando que, somente nos canteiros de obras, foram gerados em torno de 850 mil empregos formais.
No entanto, segundo Ilso de Oliveira, as empresas do setor também tiveram uma perda de rentabilidade muito expressiva devido ao acréscimo nos custos de produção, em função da adequação de procedimentos operacionais trazidos com a pandemia, e dos custos dos insumos, além da falta de mão de obra.
Para os próximos cinco anos, o executivo estimou que há um mercado de US$ 45 bilhões/ano de investimentos para os setores de mineração, energia, principalmente de energia fotovoltaica, eólica e hidro energia, óleo e gás, entre outros. “Cada vez mais eu me convenço de que essa é uma das frentes que a gente tem para dobrar o PIB nacional da construção”, ponderou Martins.
Quanto ao mercado imobiliário, a avaliação do presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) da CBIC, Celso Petrucci, é de que não faltaram recursos. Todavia, com o advento das eleições em outubro, da Copa do Mundo em meados de novembro e as comemorações de final de ano, o número negativo de unidades lançadas deve crescer para algo em torno de 12% no último trimestre do ano. Já com relação ao número de vendas, a expectativa é fechar o ano com o número de vendas muito próximo ao de 2021. Para 2023, a área não prevê falta de recursos. “Se o governo acertar a mão no primeiro trimestre do ano e não houver novo aumento da taxa Selic, a minha previsão é de que 2023 será muito parecido com 2022, segundo melhor ano do mercado imobiliário desde 2013/2014, não só pelo crescimento do PIB da construção, de aproximadamente 18% no biênio, mas pela forte geração de empregos formais”.
Já na área de habitação de interesse social foram contratados R$ 36 bilhões no Casa Verde e Amarela (CVA), contra R$ 33,5 bilhões no ano passado. Na perspectiva do presidente da Comissão de Habitação de Interesse Social (CHIS), Carlos Henrique Passos, 2022 deve superar 2021, tanto em quantidade de unidades quanto em valor. “O acerto das medidas para melhorar os subsídios e reduzir as taxas de juros para o segmento do grupo 1 de renda (até R$ 2.400) trouxeram essas pessoas para a compra da casa própria e fez com que o programa saísse de um viés negativo para um viés de crescimento, embora tímido, o deve se repetir em 2023”.
Como perspectiva, Carlos Henrique também salientou como positivo, dentro do CVA, o fato de o FGTS ser uma fonte com recurso definido. “É um fundo que tem um orçamento plurianual já definido, com um custo relativamente barato”. Além disso, evidenciou que, pelas discussões que a CBIC vem tendo com a equipe de transição, a habitação está no foco do novo governo. “Temos para 2003 uma perspectiva interessante, na medida em que há possibilidade do resgate da faixa 1 no programa habitacional e recursos do FGTS, com um orçamento já definido, com instrumentos que foram melhorados, a partir de julho, para permitir que o programa de fato aconteça a partir de 01/01/2022”.
Sobre investimentos na construção, a economista da CBIC ressaltou a importância da previsibilidade e mencionou “preocupação com o incremento de investimentos públicos, mediante um aumento de gastos públicos, que podem ensejar um aumento de dívida pública muito grande e que traga instabilidade para o cenário econômico nacional, com possibilidade de aumento de juros”.
Saiba mais sobre o que foi debatido no Quintas, como as preocupações e desafios de cada uma das áreas para 2023, acessando o canal oficial da CBIC no YouTube.
Fonte: CBIC