O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará na sexta-feira (4) o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre e do ano de 2021. A expectativa do mercado é de crescimento acima de 4%, mas com o Brasil ainda em um quadro de estagflação.
O termo se refere a uma combinação de crescimento baixo ou zero, a estagnação, e uma inflação elevada. Em 2021, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 10,06%.
Mesmo assim, o quarto trimestre deve ter um dado positivo, uma melhora em relação aos trimestres anteriores, quando o Brasil entrou na chamada recessão técnica, quando são registradas duas quedas consecutivas do PIB.
Expectativas
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, projeta o PIB em 2021 em 4,5%, em linha com o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do indicador.
O resultado, afirma, é um “crescimento marginalmente acima de zero, mas sinalizando que a economia poderia ter ido pior porque novembro e dezembro vieram melhor, especialmente indústria e comércio”.
Entre as causas para esse resultado, ele destaca a alta inflação em 2021, que contribuiu para um cenário de estagnação que deve continuar em 2022.
Por outro lado, o crescimento de 4,5% representaria um leve ganho sobre a perda em 2020, quando a economia recuou 4% devido à pandemia. Ou seja, o número não deve ser visto com muito otimismo, já que a base de comparação é fraca.
“No começo de 2021 parecia que poderia ter resultado ruim por causa da segunda onda, o cenário é de recuperar o que perdeu em 2020, mas a gente perdeu gás”, diz.
Coordenadora do Boletim de Macroeconomia do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Silvia Matos espera que 2021 tenha um crescimento do PIB de 4,6%, enquanto o do quarto trimestre avançaria 0,5% na comparação trimestral.
Ela avalia que, mesmo com os desafios de 2021, o avanço da vacinação no país e a recuperação econômica mundial mais rápida que o esperado, gerada por políticas de estímulo e que impactou positivamente nas commodities, gerou um resultado mundial, e não apenas brasileiro, mais favorável.
“O avanço da vacinação é para se comemorar, há desigualdade entre os países, mas o Brasil se beneficiou rapidamente, permitindo a abertura da economia com menos riscos. A abertura da economia permite a volta dos segmentos mais afetados, o que é muito importante para o desempenho do PIB no segundo semestre”, afirma.
Apesar disso, ela cita “freios” para a economia no ano passado, como a inflação mais forte que o previsto e disseminada na economia, o câmbio desvalorizado e os efeitos da crise hídrica e energética. Esses fatores fizeram com que o PIB não tenha sido tão positivo quanto poderia ter sido.
“O mercado está um pouco mais pessimista. É sempre difícil prever o PIB, e o cenário de incertezas dificulta ainda mais. Um número mais positivo pode surpreender o mercado, mas é possível ver agro ou serviços pior que o esperado. A chance de vir maior que isso é difícil”, diz.
Considerando os recuos nos trimestres anteriores, mas menores que 1%, Matos afirma que o cenário é mais de estagnação do que recessão, já que não há uma contração generalizada. A expectativa é que o PIB fique oscilando, mas ainda próximo de zero.
Juliana Inhasz, professora do Insper, também espera alguma alta do PIB no último trimestre, mas não muito grande. “O 4º trimestre prometia bastante em termos de crescimento, porque estava em uma volta cada vez maior de circulação de pessoas, mas o ritmo de volta e aumento de demanda foi bem inferior ao que a gente esperava”.
Ela reforça que a base de comparação é muito ruim, e que o crescimento pode parecer positivo, mas é “inferior ao que precisava para de fato deixar a pandemia para trás e iniciar um período de crescimento mais sólido”. Nesse cenário, o resultado deve “solidificar um quadro de estagflação”.
“A perspectiva do mercado é de 4%, 4,5%. Se viesse muito abaixo, geraria sensação bem ruim no mercado, com o cenário para frente podendo ser pior”, diz.
Entretanto, ela afirma ser mais fácil que o PIB venha acima do esperado, entre 4,5% e 5%, já que o último trimestre apresentou pontos favoráveis em pesquisas, como a melhora da crise hídrica, redução nas dificuldades de produção, gastos maiores do governo e aumento da circulação de pessoas antes da chegada da variante Ômicron.
Desempenho dos setores
O grande “vilão” do PIB no terceiro trimestre foi a agropecuária que ssurpreendeu negativamente com um recuo de 8% devido a condições climáticas desfavoráveis e custos de produção maiores.
Para o quarto trimestre, Inhasz espera uma recuperação. “O quarto trimestre é melhor que o terceiro para o agro pelas condições climáticas melhores. Mas foi o setor que menos se abalou durante a pandemia, não parte de base baixa de comparação”, diz.
Ela afirma que os outros setores da economia deslancharam em 2021 pela base fraca de 2020, em especial serviços e indústria, mas o aumento considerando o pré-pandemia deve ser pequeno.
“Serviços deve ter tido um ano bom, mas as pessoas ainda estão reticentes de voltar a consumir muito”, aponta.
Para ela, o resultado de 2021 “já está traçado”, e não deve ter surpresas, mas a professora recomenda observar o tamanho dos investimentos na proporção do PIB, que “ainda deve ser inferior ao necessário para ter crescimento nos próximos anos”.
Já Vale diz que a tendência após quedas fortes, como a da agropecuária, é de pequena reversão, o que deve acontecer com o setor no quarto trimestre.
Na ponta positiva, ele cita o comércio e serviços. ”No fim do ano passado, tiveram resultado bastante positivo. Por causa desses dois itens, o PIB deve ter resultado que evita recessão”.
Matos, da FGV-Ibre, também espera uma recuperação da agropecuária, com o último boletim Macroeconômico, de fevereiro, projetando alta trimestral de 9,3% e de 0,5% em 2021.
O setor com mais crescimento, porém, deve ser o de serviços, beneficiado pelo avanço da vacinação. A expectativa é de alta trimestral de 0,7%, e de 4,8% no ano, refletindo no PIB devido ao peso do setor.
Dentre os seus segmentos, Silvia Matos destaca as áreas de serviços públicos e os chamados “outros serviços”, que englobam serviços prestados à família. “Foram os mais prejudicados na pandemia, e ao longo de 2021 os indicadores ligados a eles mostraram retomada, logo o PIB foi favorecido”.
Em relação à indústria, a projeção é de queda trimestral de 1,7%, mas com alta de 4,3% no ano. Mas a economista afirma que é importante separar a indústria nos seus componentes, que tiveram desempenhos diferentes.
“A indústria geral é a de transformação, e essa mostra sinais negativos. Ela recuou em 2020, vai crescer em 2021 pela base ruim, mas recuou ao longo de todo o ano”, diz. Entre os motivos para isso, ela cita a crise energética, câmbio fraco, demanda baixa e falta de insumos.
O boletim projeta queda trimestral de 2%, com avanço de 4,7% em 2021. Já o segmento de construção civil é o grande destaque na indústria, com expectativa de crescimento de 8,7% no ano passado.
Outro segmento industrial que deve ter um bom resultado no ano é o da indústria extrativa, favorecida pelo ciclo de alta das commodities, com crescimento de 2,8%.
Fonte: CNN Brasil