A indústria brasileira da construção aumentou em abril a previsão de crescimento para 2022 de 2% para 2,5%, segundo dados divulgados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). De acordo com Ieda Vasconcelos, economista da CBIC, no início da pandemia, em março de 2020, era impossível fazer qualquer prognóstico diante de uma situação tão caótica como a que se instalou. “Entretanto, com o passar dos dias, a construção civil foi declarada um setor de atividade essencial e continuou trabalhando. Além disso, aquela situação fez com que as pessoas ressignificassem o valor da casa própria. Ainda, as taxas de juros chegaram aos menores patamares históricos do crédito imobiliário. Então tudo isso impulsionou o setor imobiliário, especialmente a partir do segundo semestre de 2020.
“Esse estímulo também se replicou em 2021, de modo que esperávamos crescer, mas quando fizemos a projeção do crescimento, projetamos uma alta em torno de 8%. Quando saiu o resultado do PIB do IBGE relativo ao último ano, os números nos surpreenderam: a construção cresceu 9,7%. Foi o maior crescimento dos últimos dez anos. Este avanço aliado aos primeiros números que pesquisamos neste ano, como intenção de investimento de empresários do setor, indicadores de confiança e nível de atividade, eles também vieram positivos. Então, quando projetamos essa alta de 2%, ainda não tínhamos o resultado do ano passado. E este é um dado que acaba influenciando, especialmente no primeiro semestre de 2022. Da mesma forma, também não tínhamos os resultados dos três primeiros meses do ano, onde o setor se destacou na geração de empregos. De janeiro até março de 2022, já foram criados mais de 100 mil novos postos de trabalho com carteira assinada. Todos esses fatores nos impulsionaram e as estimativas foram revisadas de 2% para 2,5%”, declara Ieda.
Aparentemente, parece um crescimento mais modesto. No entanto, de acordo com Ieda, o crescimento de 9,7% foi em cima de um PIB negativo do primeiro ano da pandemia. “Em 2020, o setor como um todo – envolvendo serviços especializados, construção de edifícios e infraestrutura – chegou a cair 6,6%. Em 2021, recuperamos este número e crescemos um pouco mais. Já o crescimento de 2,5% será em cima do 9,7%, que já é uma base mais elevada. Portanto, é um resultado importante”, pontua Ieda.
Além disso, se a previsão se confirmar, será o segundo ano consecutivo de crescimento no setor. “E, ainda por cima, é um aumento acima da economia nacional. Em 2021, enquanto a construção cresceu 9,7%, a economia cresceu 4,6%. Em 2022, enquanto a projeção da construção está em 2,5%, a da economia está entre 0,8% e 1%”, explica Ieda.
Processo produtivo longo
Como o setor de construção civil trabalha com um processo produtivo longo, tudo o que foi vendido em 2021, será construído em 2022 e 2023. “Estamos num processo de construir para então honrar os compromissos do último ano. O que é necessário é que esse ciclo produtivo se renove e o setor continue a crescer, mesmo encerrando esse ciclo do segundo semestre de 2020. Se houver um equilíbrio de vendas e lançamentos com relação a 2021, já será um resultado positivo”, aponta Ieda.
Desafios de 2022 para a construção civil
Segundo Ieda, o ano de 2022 terá uma série de desafios. “O ano se iniciou com uma forte preocupação com a variante Ômicron do Coronavírus, em especial na China, que está levando a um lockdown de importantes cidades. Tivemos recentemente acesso a indicadores da economia chinesa e todos surpreendendo negativamente. A economia mundial também está crescendo menos em função do conflito entre Rússia e Ucrânia. A inflação tem sido também um problema da economia global”, destaca Ieda.
No Brasil, em especial, as taxas de juros no maior patamar real do mundo, com a taxa Selic subindo de 12% para 12,75%. “Embora a taxa de juros do crédito imobiliário não esteja diretamente atrelada à Selic, esta acaba influenciando as demais taxas de juros da economia. No entanto, a taxa de crédito imobiliário, por sua vez, é a menor do país. Quando a taxa Selic estava em 2%, a taxa de juros do crédito imobiliário estava entre 6,5% e 7%. Agora, com a Selic a 12,75%, a taxa de juros do crédito imobiliário está em torno de 9,5% geral. Então, enquanto a primeira subiu 10,75%, a outra não subiu no mesmo patamar. Apesar de estarem um pouco maior do que no início da pandemia, continuam em um valor muito atrativo. Na verdade, a preocupação com a Selic é o que ela pode provocar na perda de dinamismo da economia. No segundo semestre, nós teremos essas taxas de juros gerando impacto maior no nível de atividade econômica. Aí temos uma preocupação, como todos os segmentos produtivos”, defende Ieda.
Também é um ano de eleição no Brasil, que costuma ser um período de incertezas. “Todo este cenário indica um ano cheio de desafios”, afirma Ieda.
Fonte: www.cimentoitambe.com.br
Leia mais
Entrevista com Alexandre Forjaz, presidente da Alec, na Revista Construção Latino-Americana
Sondagem Indústria da Construção: atividade e emprego registram melhor desempenho desde 2012