Gustavo Loyola avalia juros altos até 2026, que pode dificultar investimentos e pressionar empresas

Para ele, os juros elevados devem permanecer em dois dígitos até pelo menos 2026, pressionando o endividamento das empresas e dificultando novos investimentos no setor. Durante reunião do Conselho de Administração da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), realizada nesta quarta-feira (12), o economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, destacou que a conjuntura econômica atual impõe desafios significativos para diversos setores do país, entre eles o da construção civil, agravados por incertezas no cenário internacional e entraves fiscais no Brasil.

Cenário global e os impactos para o Brasil 

Loyola destacou que a política econômica dos Estados Unidos e os riscos fiscais do governo norte-americano devem manter os juros internacionais em patamares elevados. “O que estamos vendo é um dólar estruturalmente mais forte e taxas de juros globais mais altas, o que impacta diretamente o Brasil”, afirmou o economista. Ele explicou que um real desvalorizado encarece insumos dolarizados, como aço e alumínio, afetando diretamente a construção civil. 

O economista também chamou atenção para o desaquecimento da economia chinesa e europeia. “A China enfrenta uma crise imobiliária severa, com excesso de capacidade e uma população envelhecendo rapidamente, o que impacta a demanda global por commodities”, analisou. Já na União Europeia, o crescimento está abaixo do esperado, e a perda de competitividade em relação à China preocupa o mercado.

Brasil: juros altos e desafios fiscais

No cenário doméstico, a expectativa é de uma desaceleração econômica em 2025, com crescimento projetado em torno de 1,9%. Loyola atribuiu essa queda ao aperto das condições financeiras e à deterioração do ambiente econômico. “Depois de três anos de crescimento acima de 3%, a economia brasileira deve entrar em um período de menor dinamismo”, afirmou.

Para o especialista, o maior obstáculo é o quadro fiscal, ainda sem solução estrutural. “O governo Lula enfrenta dificuldades para aprovar reformas devido à fragmentação do Congresso e ao perfil mais conservador da atual legislatura”, observou. Além disso, alertou para o risco de medidas populistas visando aumentar a popularidade presidencial, como controle de preços e ampliação de subsídios, que poderiam comprometer ainda mais as contas públicas.

Construção civil e o impacto da restrição orçamentária

A taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,25%, deve sofrer novos aumentos, alcançando 15,25% em junho, segundo projeções apresentadas por Loyola. “O Banco Central tem sido firme na política monetária para conter a inflação, mas os reflexos disso são extremamente negativos para setores que dependem de crédito de longo prazo, como a construção civil”, disse.

O setor imobiliário e a infraestrutura são diretamente afetados pelo custo do financiamento. “O aumento dos juros impacta a capacidade de financiamento das empresas e reduz o acesso ao crédito para consumidores”, explicou. Além disso, a piora do perfil da dívida no setor privado pode elevar os índices de inadimplência, dificultando ainda mais o cenário.

Expectativas regionais e perspectivas

Apesar do contexto desafiador, Loyola apontou que algumas regiões do Brasil devem apresentar um crescimento acima da média nacional, com destaque para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste. “O agronegócio deve impulsionar o crescimento nessas regiões, especialmente com a recuperação da safra de grãos e a produção de biocombustíveis”, afirmou. Além disso, o evento COP-30, que será realizado em Belém, deve aquecer o setor de construção e infraestrutura na região Norte.

Por fim, Loyola alertou que, enquanto a política fiscal não for resolvida, os juros devem continuar elevados, mantendo o custo do crédito alto e limitando o crescimento econômico. “O Brasil precisa encontrar um equilíbrio entre responsabilidade fiscal e medidas que incentivem a atividade econômica, especialmente em setores estratégicos como a construção”, concluiu.

Fonte: CBIC

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